Temida por muitos, a condição é genética e tem afetado cada vez mais jovens, principalmente em decorrência de hábitos como má alimentação e estresse somados ao fator hereditário. Hoje, no entanto, testes genéticos prometem facilitar a identificação desses casos e favorecem um tratamento mais eficaz e assertivo, de acordo com especialistas.
Esses testes avaliam a disponibilidade dos genes causadores da alopecia no paciente e se há predisposição para doenças capilares, segundo Thalita Rodrigues, médica tricologista e conselheira da ABT (Academia Brasileira de Tricologia). "Assim conseguimos direcionar melhor o tratamento do paciente com essa pré-disposição para que seja mais assertivo", explica.
Apesar de a alopécia ser uma doença crônica, é possível estagnar o processo. "O teste não vai evitar que o paciente desenvolva a doença, mas ela não evolui tanto se ele fizer com que essa manifestação seja mais tardia", diz.
Era comum homens com idades na faixa dos 60 apresentarem a queda capilar, de acordo com Rodrigues. Mas hoje a idade das pessoas que enfrentam o problema tem diminuído principalmente por conta de hábitos de vida. "Alimentação pobre em vitaminas e minerais, estresse, alto consumo de bebida alcoólica e de cigarros pode ter correlação com a aceleração do processo de queda", explica a médica.
Um exemplo de como uma rotina envolvendo as características citadas pela especialista causou problemas com alopecia foi a pandemia de Covid, quando mais pessoas procuraram profissionais da tricologia com queixas relacionadas à queda de cabelo. Para Rodrigues, com os atuais casos de dengue há uma possibilidade que o cenário se repita. Isso porque o corpo passa por um processo inflamatório durante essas infecções.
O exame genético para saber se uma pessoa tem a possibilidade de desenvolver qualquer tipo de alopecia é feito com um swab (cotonete), que coleta uma amostra da mucosa bucal do paciente. Após essa etapa, a coleta é enviada a um laboratório e, depois de 15 a 20 dias, devolvida ao consultório médico.
Indicado para homens e mulheres, um dos primeiros testes do tipo utilizado no Brasil é importado de uma farmacêutica belga. Porém, no último ano, duas pesquisadoras brasileiras desenvolveram uma versão nacional. Ana Lúcia e Ana Carina Junqueira formularam um exame para diagnóstico da alopecia em parceria com geneticistas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
"O teste nos mostra a predisposição do paciente a uma chance maior ou não de desenvolver algum tipo de alopecia, ajudando ainda a direcionar melhor o tratamento, mostrando o que aquele organismo tende a responder melhor. Uma das maiores vantagens com esse diagnóstico é o direcionamento do tratamento", explica a dermatologista e desenvolvedora do exame Ana Lúcia Junqueira.
Para criar o produto, foram estudados e codificados os genes relacionados a alopecia. Também foi testada a sensibilidade dos genes ao exame. Hoje o teste é produzido na cidade de São Carlos, a 230 quilômetros da capital paulista.
"Nós fazemos a coleta na capital e encaminhamos para o laboratório particular, em São Carlos, para ser analisado", comenta Junqueira.
De acordo com ela, cerca de 120 pessoas já realizaram o teste que só está disponível em sua clínica na cidade de São Paulo. Quem procura são filhos de pessoas que apresentam algum tipo de alopecia.
"O que acontece bastante é termos algum paciente já diagnosticado que quer saber se os filhos ou descendentes têm algum sinal ou uma chance aumentada de ter o mesmo problema", afirma Junqueira.
O valor do exame desenvolvido pelas irmãs Junqueira varia entre R$ 2.500 e R$ 3.500.
Dermatologista e membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), Fabiane Brenner afirma que ainda não há evidências de que o teste genético seja certeiro. Para diagnosticar precisamente a alopecia em um paciente é feito um teste clínico com dermatoscopia, uma ferramenta que consiste em uma câmera que aumenta a raiz do couro cabeludo. Segundo ela, o padrão ouro para detectar a alopecia é esse tipo de exame ou a própria biópsia.
"O teste genético funciona melhor quando algum parente já apresenta o problema e o paciente quer saber se também pode desenvolver, então ele determina um risco, mas não um diagnóstico certeiro para a alopecia", completa Brenner.
A médica diz, no entanto, que o diagnóstico precoce favorece uma melhora efetiva mais rápida do paciente. "Quanto mais cedo eu descobrir e tratar, terei uma resposta muito melhor", finaliza.
Um dos principais e mais populares tratamentos utilizados para tratar a alopecia androgenética consiste no uso do medicamento minoxidil, que surgiu como um medicamento para hipertensão.
Fonte: Folhapress