A FDA, agência reguladora de medicamentos e alimentos nos EUA, autorizou nesta sexta-feira (11) o uso emergencial da vacina contra Covid-19 produzida pela americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech.
A chancela deve permitir que a vacinação nos EUA comece na próxima semana, com profissionais de saúde e idosos que vivem em casas de repouso como os primeiros a receberem as doses do imunizante.
O aval da FDA foi dado em meio à pressão da Casa Branca, um dia após o comitê consultivo independente da agência ter recomendado o uso emergencial da vacina no país.
A expectativa era de que a FDA desse sua palavra final até domingo (13), mas o governo americano usou inclusive de ameaças de demissão para que o processo fosse acelerado mesmo que em algumas horas.
Na manhã desta sexta, o presidente Donald Trump atacou a FDA via Twitter, chamando a agência de "uma grande, velha e vagarosa tartaruga."
"Parem de brincar e comecem a salvar vida", escreveu Trump que, durante quase toda a pandemia, minimizou a crise e não se solidarizou com as mais de 280 mil vítimas de Covid-19 no país.
Até agora, Reino Unido, Canadá, Bahrain e Arábia Saudita já autorizaram o uso da vacina da Pfizer-BioNTech –o processo nos EUA é mais lento visto que especialistas fazem análises independentes sobre o imunizante.
De acordo com o jornal The Washington Post, o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, telefonou para o chefe da FDA, Stephen Hahn, e o ameaçou. Disse que, se a chancela à vacina não saísse até o fim de sexta, Hahn deveria enviar sua carta de demissão e começar a procurar outro trabalho.
Ainda de acordo com o jornal americano, as bravatas do chefe de gabinete de Trump fizeram com que os especialistas da FDA acelerassem o processo burocrático, com o preenchimento de documentos e outros dados que a Pfizer ainda precisaria revisar.
Em nota, Hahn disse que a interpretação do telefonema do chefe de gabinete de Trump não estava correta e que a FDA "está comprometida a emitir essa autorização rapidamente", assim como havia se pronunciado na manhã de sexta, antes das informações sobre a pressão da Casa Branca virem a público.
Depois do aval da FDA, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) também precisa autorizar a vacina, o que é esperado para acontecer até domingo.
A primeira remessa de 2,9 milhões de doses do imunizante deve ser enviada em até 24 horas depois da autorização da FDA. São 6,4 milhões de doses prontas para serem distribuídas nos EUA –a imunização ocorre em duas doses, aplicadas com intervalo de até três semanas.
Segundo as expectativas do governo americano, 20 milhões de pessoas serão vacinadas no país até o fim do ano, o que exige 40 milhões de doses de vacina.
Além da que é produzida pela Pfizer, os EUA contam com a autorização da FDA para o imunizante feito pelo laboratório Moderna, o que pode acontecer antes do Natal.
Com mais de 280 mil mortes acumuladas, os EUA assistiram esta semana ao recorde de mais de 3.000 vítimas de Covid-19 num único dia, superando as do atentado de 11 de Setembro, quando 2.977 pessoas morreram.
Mesmo diante do cenário tão sombrio, Trump segue a postura negligente que manteve durante quase toda a pandemia –minimizando o vírus e espalhando desinformação– e até agora não se pronunciou publicamente sobre os novos números da tragédia de saúde pública.
Como habitual, o presidente investe somente nos ataques públicos a adversários ou ameaças a subordinados com quem está descontente, como fez com a FDA.
Na quinta, os conselheiros da agência funcionaram como uma espécie de corte científica, em painel transmitido ao vivo para debater os dados e estatísticas sobre a vacina e concluir se o imunizante era de fato seguro e eficaz o suficiente para que seu uso emergencial fosse autorizado nos EUA.
Fonte: Folhapress